quinta-feira, 14 de julho de 2011

FERIAS


LEIAM O QUE NOS DIZ O POETA CARLOS DRUMMOND SOBRE FÉRIAS

TIRAR FERIAS

        A noção de férias está ligada a figuras de viagem, esporte, aplicações intensivas do corpo; quase nada a descanso.
       As pessoas executam durante esse intervalo aquilo que não puderam fazer ao longo do ano; fazem "mais" alguma coisa, de sorte que não há férias, no sentido religioso e romano de suspensão de atividades. Matutando nisso, resolvi tirar férias e gozá-las como devem ser gozadas: sem esforço para torná-las amenas. A idéia de viagem foi expulsa do programa: é das iniciativas mais comprometedoras e tresloucadas que poderia tomar o trabalhador vacante. As viagens ou não existem, como é próprio da era do jato, em que somos transportados em velocidade superior à do nosso poder de percepção e de ruminação de impressões, ou existem demais como burocracia de passaporte, filas, falta de vaga em hotel, atrasos, moeda aviltada, alfândega, pneu estourado no ermo, que mais? Quanto à prática de esportes, sempre julguei de boa política deixá-la entregue a personalidades como Éder Jofre, Maria Ester Bueno ou Pelé, que dão o máximo. A performance desses ases satisfaz plenamente, e não seria eu num mês de férias que iria igualá-los ou sequer realçá-los pelo contraste. Bem sei que o esporte vale por si, não pelos campeonatos; mas também, como passatempo, carece de sentido. Pescar, caçar pequenos bichos da mata? Nunca. Se esporte e morte acabam pelo mesmo som, para mim nunca rimaram. Havia também os trabalhos, os famosos trabalhos que a gente deixa para quando repousar dos trabalhos comuns. Organizar originais de um livro. Escrever uma página de sustância (está pronta na cabeça, falta só botar o papel na máquina!). Pesquisar em arquivos. Arrumar papéis. Mudar os móveis de lugar. E os deveres adiados, tipo "visitar o primo reumático de Del Castilho". A idéia de conhecer o Rio, conhecer mesmo, que nos namora há 20 anos: tomar bondes esdrúxulos, subir morros, descobrir lagoas de madrugada. Por último, o sonho colorido dos gulosos, sacrificados durante o ano: comer desbragadamente pratos extraordinários, sem noção de tempo, saúde, dinheiro. Tudo aboli e fiz a experiência das férias propriamente ditas, que, como eliminação das atividades ordinárias e exteriores, pode parecer estado contemplativo ou exercício de ioga. Não é nada disso. Exatamente porque abrem mão de tudo, as boas férias não devem tender à concentração espiritual nem à contenção da vontade. São antes um deixar-se estar, sem petrificação. Levantar se mais tarde? Se não fizer calor; um direito nem sempre é um prazer. Ir ao Arpoador? Se ele nos chama realmente, não porque a manhã e a água estão livres. O mesmo quanto a diversões, muitas vezes menos divertidas do que a noção que temos delas.
        Divertir-se é desviar-se, e não convém que nos desviemos das férias, enchendo o tempo com programas de férias. Deixemos que ele passe, sutil; não o ajudemos a passar. Há uma doçura imprevista em sentir-se flutuar na correnteza das horas, em sentir-se folha, reflexo, coisa levada; coisa que se sabe tal, coisa sabida mas preguiçosa. Se me pedirem para contar o que fiz afinal nestas férias, direi lealmente: ignoro. Aos convites disse não, alegando estar em férias, alegação tão forte como a de estar ocupadíssimo. O pensamento errou entre mil avenidas, não se deteve em nenhuma; cada dia amadureceu e caiu como um fruto. Nada aconteceu? O não acontecimento é a essência das férias. E agora, é trabalhar duro onze meses para merecer as inofensivas e deliciosas férias do não.
Carlos Drummond de Andrade, Cadeira de Balanço, 13a Edição, Livraria José Olympio Editora
(14 de março/2009) o 623
CooJornal n

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Entrevista Eduardo Bueno

Foi gratificante ouvir a entrevista do escritor Eduardo Bueno - Peninha - com vocês. Acredito que ele ratificou tudo o que eu sempre venho dizendo: o conhecimento é a única maneira de nos tornarmos livres.
Pesquisei e vou deixar um pouco mais sobre ele aqui para vocês:

Eduardo Bueno

Eduardo Bueno é escritor, jornalista, editor e tradutor. É o primeiro escritor, nos últimos 12 anos, a possuir três títulos na lista dos best-sellers dos principais jornais e revistas do país.
Autor da coleção Terra Brasilis – sobre a história colonial do Brasil – , Eduardo Bueno se tornou o maior fenômeno editorial do país nos últimos dois anos. Juntos, os três títulos da coleção – Viagem do Descobrimento, Náufragos, Traficantes e Degredados e Capitães do Brasil –  venderam mais de 400 mil exemplares. Eduardo Bueno já teve antes outros sucessos editoriais: ele é o autor de Blá, Blá, Blá – A biografia autorizada dos Mamonas Assassinas (L&PM Editores), que vendeu mais de 100 mil exemplares.

Como tradutor, seu trabalho pode ser conferido em On the Road / Pé na Estrada, de Jack Kerouac. O livro deflagrou a onda da literatura beat no Brasil e vendeu mais de 150 mil exemplares. Ao todo, Bueno traduziu 22 livros. Como editor, Bueno já trabalhou em mais de 200 títulos, colaborando com algumas das principais editoras brasileiras. Foi escolhido o melhor editor do ano, em 1984, pela revista Istoé, quando trabalhava para L&PM Editores. Como jornalista, trabalhou em praticamente todos os jornais, revistas e emissoras de televisão do país, entre as quais TV Globo, Manchete, TV Cultura, TV-Rs, jornais O Estado de S. Paulo, Zero Hora e vários outros. Eduardo Bueno também já escreveu vários roteiros de TV e cinema.

Para quem quer ver esta entrevista que eu estou falando é só entrar no site da TV Escola - abrir programação do dia 16/06 - e procurar o programa Caminhos da Escola que passou às 20:00hs. A entrevista com ele está a partir dos 15 min. de programa.

A dinâmica feita do GV - GO foi 10! Vocês me surpreenderam!!! É muito bom ver como vocês estão argumentando,  sabem expor seus pensamentos, fazer uma discussão tão legal! "Peninha" que não filmamos....